Durante muitos anos o autismo e a esquizofrenia eram consideradas como semelhantes. Historicamente, a primeira vez que o termo autismo apareceu foi em 1908 pelo psiquiatra Paul Eugen Bleuler.
O artigo “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” é considerado um dos grandes materiais publicados sobre autismo. Foi publicado pelo psiquiatra Leo Kanner em 1943, que pela primeira vez trouxe a análise de forma consistente ao público infantil. Sendo um dos primeiros a observar que os sintomas aparecem nos dois primeiros anos de vida, colocando principais critérios: isolamento extremo e insistência obsessiva na mesmice.
Hans Asperger em 1944 publicou o artigo “A Psicopatia Autista da Infância”. Neste artigo, foi demonstrado um grupo de indivíduos com características semelhantes ao grupo de Kanner, com a diferença relacionado ao desenvolvimento intelectual.
Em 2018 a historiadora Edith Sheffer publicou o livro “Crianças de Asperger: As origens do autismo na Viena nazista”. Vários outros historiadores também têm associado Hans Asperger ao regime nazista. Sendo responsável por pesquisas médicas de crianças com deficiências , submetendo-as a abusos psicológicos e físicos.
Na década de 50 o autismo foi considerado por alguns como um modismo, devido ao aumento súbito no número de diagnósticos nos Estados Unidos. Este acontecimento se deu devido ao alargamento dos critérios diagnósticos. Na década de 60 começou um movimento na comunidade médica científica de onde o autismo deveria ser colocado nas classificações vigentes.
Através destes estudos, em 1968 o autismo passa a ter designação própria no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: (DSM – publicado pela Associação Psiquiátrica Americana): “Transtorno Autista”, incluído nos transtornos invasivos de desenvolvimento (TID). Os critérios empregados refletiam as manifestações inicialmente descritas por Kanner e expandidas por Rutter.
De 1968 a 1978, Rutter define 5 critérios essenciais para o diagnóstico de autismo a partir dos 30 meses de idade: desenvolvimento social anormal, desenvolvimento desviado (em especial a linguagem), comportamento estereotipado, ausência de delírio. Rutter junto ao Kanner foram os grandes colaboradores para o desenvolvimento dos critérios diagnósticos no DSM III. Em 1987, ocorreu um grande passo devido à adoção do termo Distúrbios Abrangentes do Desenvolvimento (PDD).
A psiquiatra Lorna Wing e mãe de uma menina autista (Susie) debruçou sua vida para estudar sobre o autismo. Graças aos seus estudos, a partir da década foi melhorando os parâmetros diagnósticos. Ela elencou 6 pontos fundamentais:
- Verbalização correta, mas estereotipada e pedante;
- Comunicação não-verbal caracterizada por gestos socialmente convencionados como inadequados, voz sem entonação e poucas expressões faciais;
- Ausência de manifestações convencionais de empatia;
- Prefere a repetição, aversão às mudanças;
- Deficiências de coordenação motora, como postura e movimentos;
- Boa memória mecânica e limitados interesses especiais.
Infelizmente, Susie teve uma morte inesperada aos 49 anos. Lorna em seus livros conta que Susie nunca foi capaz de expressar claramente suas emoções, mas como, quando chegava em casa após o trabalho, seu rosto se iluminava. Ela dizia ser um sentimento absolutamente maravilhoso, diferente de tudo.
Lorna Wing também contribuiu para o desenvolvimento do movimento recente “orgulho do autismo”. Ela acreditava, e deixaria as pessoas saberem que sim, que para ser realmente bem-sucedido nas ciências e nas artes é necessário ter alguns traços claros de autismo.
Lorna, também acreditava que temos algumas dessas características. Um de seus ditados favoritos dela era que a natureza nunca traça uma linha sem borrá-la; você não pode separar naqueles “com” e “sem” traços, pois eles estão muito dispersos “. Como também, foi um dos grandes nomes a levantar as questões genéticas e o autismo.
Concomitantemente à época das pesquisas de Lorna, a psicóloga Uta Frith desenvolveu o conceitos da teoria da mente e a fraqueza da coerência central, um argumento de que autistas costumam ser mais habilidosos para perceber detalhes específicos no ambiente, por exemplo, e uma dificuldade maior para processar o cenário geral das coisas.
Indivíduos autistas podem ser acometidos por anormalidades qualitativas nos contatos sociais e padrões de comunicação. Muitos estudos demonstraram que uma grande quantidade destes indivíduos pode ter anormalidades no processamento cognitivo “Teoria da mente” (ToM), isto é, eles podem ter uma incapacidade de inferir os seus estados mentais e os de terceiros. Tal condição foi chamada de “cegueira mental” por Baron-Cohen (1995). Essa expressão utilizada para nomear a habilidade automática e espontânea de se atribuir estados mentais a si mesmo e a outras pessoas a fim de se poder predizer e explicar comportamentos, como será descrito adiante. Fonte: Hélio Tonelli – Autismo, teoria da mente e o papel da cegueira mental na compreensão de transtornos psiquiátricos – https://www.scielo.br/j/prc/a/kQDx4WZqCRD9FwChDkdnH3m/?lang=pt Quando observamos um objeto pela primeira vez, observamos a sua representação globalmente e não cada uma das partes que o compõem. Por exemplo, se olharmos para os rostos dos nossos entes queridos, olharemos para eles como parte de um todo, e não isoladamente o nariz, a boca, etc. Isso acontece graças à coerência central.No entanto, alguns estudos nos dizem que isso não acontece, por exemplo, em pessoas que têm um transtorno do espectro autista ou algum problema nas funções executivas. É por isso que a neurociência deu atenção à teoria da coerência central fraca. Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/coerencia-central-fraca-espectro-autista |
No DSM–IV (1994) era classificado como Transtorno Autista, implicando um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação, padrões de comportamento, interesses e atividades repetitivos, restritos e estereotipias motoras. Apresentavam algumas características e transtornos associados, como por exemplo, hiperatividade, desatenção, agressividade, comportamentos autodestrutivos, anormalidades na alimentação e /ou sono e também no humor.
O DSM-V (2013) classifica o autismo como Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o CID como F84.0. Dentre os critérios diagnósticos aparecem os déficits de comunicação (verbal e não-verbal) e interação social, dificuldade de estabelecer laços afetivos. Os sintomas que aparecem no decorrer do desenvolvimento vão de movimentos estereotipados ao comprometimento significativo no funcionamento social e profissional do sujeito, e seu prejuízo varia de acordo com o ambiente e o indivíduo.
O Transtorno do Espectro Autista engloba transtornos, como:
- autismo infantil precoce,
- autismo de Kanner,
- autismo de alto funcionamento,
- autismo atípico,
- transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação,
- transtorno desintegrativo da infância
- Asperger
Reunir tantos transtornos dentro de uma única nomenclatura tornou o autismo um grande foco nas áreas de pesquisa, políticas governamentais e na formação de profissionais capacitados para trabalhar com este transtorno.